21 May, 2025

A Primavera Mais Bonita da Minha Vida - The Most Beautiful Spring of My Life

 

Nestes últimos meses ouvi várias pessoas a queixarem-se de tanta chuva. Eu dizia: "Mas é boa para as plantinhas".

Quando chego ao meu pequeno paraíso... recebo uma explosão de vida: tanto verde, tantas cores, tantos perfumes, tanta água, tantos pássaros a cantar, tantos insectos de diferentes formas, tanta vivacidade...
Não me consigo deixar de sentir impressionado mesmo com o passar dos dias. É como uma overdose de encanto que não sei se os outros entendem. Nunca vi tantas flores na minha vida: oliveiras, giestas, papoilas, rosmaninho, sabugueiro, cardos, brancas, roxas, amarelas, delicadas, dominadoras... Os sobreiros estão com uma cor estranha.. assim amarelada. Talvez não gostem de tanta água (pensei eu). Não, estão cheios de flores. Têm mais flores que folhas e há mais folhas que o normal.
O sr. Zé diz que nunca viu tanta chuva de um verão para outro. E se toda aquela chuva se tornou nisto, eu não estava a ser suficientemente grato quando dizia que era boa para as plantinhas e, é provavelmente a primavera mais bonita da minha vida. Obrigado chuva.




In the last months, I’ve heard several people complaining about so much rain. I would say: “But it’s good for the plants.”

When I arrive at my little paradise… I face an explosion of life: so much green, so many colors, so many scents, so much water, so many birds singing, so many insects of different shapes, so much vitality...
I just can't help but feel amazed, even as the days go by. It’s like an overdose of wonder that I’m not sure others understand. I’ve never seen so many flowers in my life: olive trees, brooms, poppies, rosemary, elderflowers, thistles, white, purple, yellow, delicate, dominant...
The cork oaks have a strange color... kind of yellowish. Maybe they don’t like so much water (I thought). No, they’re full of flowers. They have more flowers than leaves, and more leaves than usual.

Mr. Zé says he’s never seen so much rain from one summer to the next. And if all that rain turned into this, I wasn’t being grateful enough when I said it was good for the plants and, this is probably the most beautiful spring of my life.
Thank you, rain.

20 November, 2024

Gosto muito do meu patrão - I really like my boss

 O meu patrão nunca grita comigo.

No verão diz-me para descansar depois do almoço e no inverno faz-me os dias mais curtos para eu ir para casa mais cedo.

Também há dias que me diz para ficar em casa e ele rega tudo muito bem regadinho.

Não me dá objectivos impossíveis, horários rígidos ou formulários de auto-avaliação.

Apenas me dá o sol, a chuva, o vento, o crescimento, os frutos, os insectos e tanto mais numa roda viva que apenas tenho que orquestrar.

O desempenho apenas depende de mim.

Não podia ter patrão melhor.


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My boss never yells at me.

In the summer he tells me to rest after lunch and in the winter he makes the days shorter so I can go home earlier. 

 There are also days when he tells me to stay at home and he waters everything very well. 

 He doesn’t give me impossible goals, rigid schedules, or self-evaluation forms.

 He just gives me the sun, the rain, the wind, the growth, the fruits, the insects and so much more in a living wheel that I just have to orchestrate. 

Performance only depends on me.

 I couldn't have a better boss.

26 August, 2023

Dentro para Fora - Inward to Outward

 Quando era mais novo e vivia no meio urbano, o mundo exterior repelia-me para dentro. Encontrei conforto no futebol (como tantos outros portugueses) e noutras fantasias como jogos de computador.

Mais tarde mudei-me para o campo e comecei a conhecer as árvores, a apreciar a beleza dos vales e das montanhas, a forma como os pássaros pairam.Continuo a viver pouco no mundo dos humanos mas agora já não me projecto para o imaginário, mas para o exterior real e belo - a Natureza.

E aparentemente, as melhores pessoas que tenho encontrado, são as que se deixam menos intoxicar por... pessoas.



 When I was younger and living in an urban environment, the outside world repelled me inward. I found comfort in football (like so many other Portuguese people) and in other fantasies like computer games.

Later I moved to the countryside and started getting to know the trees, appreciating the beauty of the valleys and mountains, the way birds hover. I continue to npt live much in the world of humans but now I no longer project myself towards the imaginary, but towards the real and beautiful outside - Nature.

And apparently, the best people I've met are the ones who don't allow to be so intoxicated by... people.

07 November, 2022

A Minha Carteira - My Wallet

 


Esta foi a minha carteira nos últimos dez anos. Tinha acabado de regressar de um país de terceiro mundo que me tinha ensinado muito e... ficado com a minha antiga carteira. Vasculhei uma gaveta da minha mãe onde ela guarda... carteiras. Escolhi a menos feminina e que me bastava para guardar dinheiro e cartões. Foi um dos primeiros episódios de uma história de minimalismo e anti-consumo. Ontem despedi-me dela. Já deixava cair as moedas e o azul da ganga apenas se mantinha no interior. Provavelmente teria mais motivos para a guardar que todas as que a minha mãe guardou, mas decidi deixá-la ir e "imortalizá-la" desta forma.


This has been my wallet for the last ten years. I had just returned from a third world country that had taught me a lot and... kept my old wallet. I rummaged through my mother's drawer where she keeps... wallets. I chose the less feminine one, which was enough for me to keep money and cards. It was one of the first episodes of a story of minimalism and anti-consumption. Yesterday I said goodbye to it. It was already letting the coins fall and the blue of the denim was only remaining inside. I would probably have more reasons to keep it than all my mother kept, but I decided to let it go and "immortalize" it this way.

30 January, 2022

O Meu Ouro

  Este ano prometia. As chuvas abundantes tinham deixado as oliveiras cobertas de flor. Tive a certeza quando o Fernando, aquele de Seiça, me disse: este ano vai ser de muita azeitona. O Verão acabou cedo e confirmou-se. As árvores estavam repletas de bolinhas cheias. Lá por baixo diziam que estavam todas picadas pela mosca mas por aqui, o frio e o isolamento ofereciam algumas vantagens. Eram muitas e adiantadas. É melhor reservar o meu lugar no lagar para poder ir passar o Natal ao Montijo descansado. Melhor, vou reservarem em dois lagares, não vá o diabo tecê-las. Antes do início da colheita um deles já estava fechado devido a uma avaria, e sendo a minha reserva no dia 24 de Dezembro, este já estava descartado. Nessa altura surgiu um convite, de um tal que se aclama Bigodes mas passa mais tempo de suiças, para ajudar a sua família na apanha da azeitona. Não só me ajudou a olhar em frente como também aprendi que apanhar a azeitona com vara é uma solução bem razoável, quando já não se tem medo de magoar as árvores. Tinha prometido que não voltava a apanhar a azeitona sem companhia, e lá estava sozinho. Que não a voltava a apanhar sem uma máquina, e lá estava eu com varas. Comecei timidamente a apanhar 15 quilos por dia mas fui-me apercebendo que me ia sentindo bem ao fazê-lo, mesmo sem andar empoleirado nas árvores. Por vezes é necessário limpar umas silvas, outras, ter criatividade na colocação dos tapetes para que esteja tudo preparado para o acto de apanhar. O dias vão passando e arranjo mais umas oliveiras que o meu vizinho Joaquim já não vai apanhar, como seria de esperar, não fossem tantas árvores para ossos tão envelhecidos. Não só os do Joaquim, que até parecem bons, mas de todo um interior rural. Um reconhecimento do terreno, uma limpeza à volta das árvores que justificam e o iniciar. A dona Luísa ofereceu-me a sua ajuda e a felicidade que senti não seria apenas a da sua companhia mas também a de constatar que afinal o karma funciona. Também me emprestou um crivo para a separação das folhas que há tanto desejava. Com o aproximar-se da noite, arruma-se tudo na carrinha e regressa-se. Coloco a lanterna na testa e esvazio um dos baldes na cabeça do crivo, coloco o balde no fim do escorrega do crivo e solto as azeitonas lentamente para poder interceptar as que ainda têm folhas ou ramos. Já só se vê a lua e as estrelas. Está na hora de aquecer a casa e a água para o duche. Passadas quase duas semanas, já tinha a azeitona dos últimos dias ensacada e a restante dentro de água. Com a ajuda de um balde perfurado, separei-a da água e ensaquei-a. Algo entre 500 e 600 quilos que a minha carrinha não poderia levar de uma só vez. Antes de a carregar ligo para o lagar. Também estavam fechados. Desculpa: Avaria. Rumores: Asae. É dia 20. Como é que vou arranjar um lagar que me faça o azeite em 4 dias e sem marcação? Impossível. Volto a colocar toda a azeitona na água, e depois de um mês no Montijo voltarei para o fazer. As opiniões sobre o estar na água dividem-se. Uns dizem que aguentam 3 meses, outros dizem que é preferível em sacos bem fechados. De qualquer forma, o único lagar aqui da zona que ainda estaria aberto no final de Janeiro seria um moderno em Santo Estevão que cobra 14 cêntimos por quilo de azeitona, mais que os outros. Já não houve mais percalços. 557 quilos de azeitona e à medida que os quilos de azeite subiam na balança, os meus olhos brilhavam. Quando até aqui a minha melhor marca tinha sido 1 litro de azeite por 8 quilos de azeitona, este ano tinha conseguido por 6 quilos. Sem demonstrar, estava extasiado por dentro, como da marcação de um golo se tratasse. Nem os garrafões que tinha levado eram suficientes. Acredito que estes resultados se devem ao facto de as ter colhido mais maduras que o normal. A confirmar. Mas estou optimista.


22 November, 2021

Os Sacos - The Bags

Hoje resolvi organizar os meus sacos. Há mais de três anos a viver aqui, tenho uma relação com sacos que posso chamar de especial.

Tenho um saco com sacos na cozinha e outros com sacos na cave. Precisando de dois sacos específicos, fui procurá-los revendo o que tinha. Assustador! Sacos dentro de sacos de todos os tipos. Sacos de charcutaria, sacos de filtros de cigarros, sacos de fogaças alcohetanas, sacos de fruta, sacos de papel, sacos de pregos, sacos, sacos, sacos... Como é que eu acumulei tantos sacos? 

Sou mais descarado que o normal ao rejeitar sacos. Uns não compreendem e eu dou-lhes uma pequena explicação, outros esquecem-se mas eu relembro-os. Não trago sacos da padaria ou da caixa de supermercado e luto muito com a gente da charcutaria: o papel chega! Mas ainda assim falhei na minha ingenuidade que não iria acumular sacos em casa. A verdade é que apenas os gasto como sacos do lixo e até os sujos eu lavo (até certo ponto de sujidade). Mas quando se vai ao talho (e vou muito pouco) é inevitável, ou quando compro uns palmieres.

A minha intenção é boa mas na verdade hoje senti-me um pouco enojado com o que acumulei. Comecei por separar sacos que posso usar para o lixo, outros com zip que posso usar para sementes (hajam muitas) e outros sacos mais generalistas com bom aspecto. Cerca de 80% deles deitei fora, ora porque estavam furados, ora porque estajam sujos, ora porque estavam desfeitos pelos ratos, ora porque eram fracos, ora porque eram pequenos, ora porque eu já estava farto e desejava que tivessem furados.

Ainda fiquei com mais sacos que os que desejava e apenas encontrei um dos sacos que procurava. Vou manter a minha rejeição aos sacos mas vou aceitar mais descartá-los.

Podem-me chamar senhor Sacos. Eu mereço.

Para a próxima conto-vos a história dos frascos ou dos pacotes tetra-pack.                   


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Today I decided to organize my bags. Living here for over three years, I have a relationship with bags that I can call special. I have a bag with bags in the kitchen and another bag with bags in the basement. In need of two specific bags, I went looking for them reviewing what I had. Scary! Bags within bags of all kinds. Cold cuts bags, cigarette filter bags, pastry from Alcochete bags, fruit bags, paper bags, nail bags, bags, bags, bags... How did I accumulate so many bags? I'm more brazen than usual when rejecting bags. Some don't understand and I give them a little explanation, others forget but I remind them. I don't bring bags from the bakery or supermarket cashier and I fight a lot with the people from the cold cuts: the paper is enough! But still I failed in my ingenuity that I wouldn't accumulate bags at home. The truth is that I only use them as garbage bags and even the dirty ones I wash (until a certain limit). But when you go to the butcher (and I go very few times) it's inevitable, or when I buy palmiers. My intention is good but actually today I felt a little disgusted with what I've accumulated. I started by separating bags that I can use for garbage, others with a zipper that I can use for seeds (many seeds) and other more general bags that look good. About 80% of them I threw away, either because they had holes, sometimes because they are dirty, sometimes because they were torn apart by rats, sometimes because they were weak, sometimes because they were small, sometimes because I was fed up and wished they had holes. I still kept more bags than I wanted and I only found one of the bags I was looking for. I will keep rejecting bags but I will accept more to discard them. Call me Mr. Bags. I deserve it. Next time I'll tell you the story of the jars or tetra-pack packages.